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Os Desafios e Dilemas Ambientais da Indústria 4.0

O baixo índice de reciclagem de materiais é uma das preocupações ambientais da Quarta Revolução Industrial.

Desde o período de Aristóteles, o conceito de mecanizar a mão de obra era incutido como uma bandeira para acabar com a escravização e exploração de trabalhadores. Atribuía-se ao maquinário uma forma de alívio à força física e exaltação à capacidade intelectual humana. “Se cada instrumento pudesse executar a sua função própria sem ser mandado, e se, por exemplo, as rocas dos fiandeiros fiassem por si sós, o dono da oficina não precisaria mais de auxiliares, nem o senhor, de escravos”. A frase foi usada no século 19, na década de 1880, para compor o manifesto Direito à Preguiça, do escritor franco-cubano Paul Lafargue (genro do filósofo socialista Karl Marx), que pregava contra o trabalho na sociedade capitalista e titulava a máquina como “redentora da humanidade”, por substituir o trabalho braçal.

A ideia parece antiga, mas países desenvolvidos e economias emergentes como o Brasil já estão adotando medidas para tornar as máquinas autossuficientes, deixando a atividade humana para outras funções que demandam maior complexidade. É o início da Quarta Revolução Industrial, a chamada Indústria 4.0, termo criado em 2013 pelo governo alemão em um estudo divulgado pela Academia Alemã de Ciência e Engenharia (Acatech) para designar a integração de sistemas de produção onde quase não há intervenção humana. Por meio de tecnologias como inteligência artificial (IA), internet das coisas (IoT), armazenamento em nuvem e big data, sensores inteligentes conversam entre si e ditam como as máquinas devem produzir. Mas esse novo panorama industrial, devido ao seu impacto em vários setores, dá espaço a dilemas que vão desde educação e desemprego à questão da sustentabilidade.

No Brasil, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) está por trás dos investimentos na Indústria 4.0. Ligada à pasta, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) é o braço estratégico que vem fazendo reuniões e programas para tentar levar ao governo políticas públicas e direcionar a indústria de transformação brasileira à tecnologia da 4.0. “No Brasil não se discutia isso e não havia nenhum tipo de projeto. Nossa economia é baseada em commodities, enquanto os países desenvolvidos investem e atualizam suas indústrias. Por isso apresentamos um plano de modernização da nossa indústria ao Ministério”, diz o presidente da ABDI, Guto Ferreira, jornalista de 37 anos nomeado no ano passado pelo ministro do Mdic, Marcos Pereira. Ferreira, afirma, sem dar mais detalhes, que o presidente Michel Temer fará um anúncio ainda este ano traçando as diretrizes nacionais em relação ao programa Brasil 4.0.

A indústria 4.0 será mais sustentável?

De acordo com o pesquisador alemão Grischa Beier, do Instituto de Estudos Avançados de Sustentabilidade (IASS), de Postdam, na Alemanha, há uma encruzilhada quanto à sustentabilidade no campo da indústria 4.0. Enquanto a atividade industrial é a mais eficiente em termos de produtividade, reduzindo falhas durante o processo e gerando menos resíduos sólidos industriais, o maquinário – responsável por toda essa eficiência – ainda terá como fonte as matérias-primas e a demanda por essas tecnologias só vai aumentar, conforme a Indústria 4.0 for se estabelecendo.

“Haverá menos desperdício de material na indústria, portanto, menos resíduos sólidos. Por outro lado, as tecnologias da Indústria 4.0 serão muito mais abundantes e necessitarão de mais recursos naturais para serem produzidas. O uso dos recursos terá que ser muito mais sustentável se a indústria quiser compensar”, prevê o cientista, ouvido pelo Estado.

A professora Tereza Cristina Carvalho, da USP, está inserida no contexto da Indústria 4.0 em parceria com o setor de calçados. Ela atua como uma consultora de produção, desenvolvendo dois conceitos da Indústria 4.0, que, segundo ela, são essenciais para o crescimento do setor, que sofre com a concorrência chinesa. Tereza oferece aporte técnico para otimizar a linha de confecção – que ainda depende da importação de tecnologia para ser mais eficiente – e padroniza ecologicamente os materiais dos sapatos. “Do ponto de vista da sustentabilidade a indústria 4.0 permite gerar bem menos resíduos porque a chance de erro é muito menor. Ela aumenta o nível de automatização e pressupõe a customização”, diz. Aliado a isso, Tereza diz que temos que tornar os produtos mais biodegradáveis e reutilizar matéria-prima. “É necessário mudar toda a lógica, implementando reuso dos materiais com a economia circular”.

No entanto, a logística reversa é cara para as empresas e ainda é um mercado pouco explorado. “A inteligência na hora de produzir poderia, teoricamente, identificar quais dejetos podem ser ou não reutilizados na linha de produção e, assim, definir a economia circular, evitando mais desperdícios. Mas esse debate ainda é muito raso na Indústria 4.0”, ressalta o pesquisador alemão Grischa Beier.

Um outro dilema ambiental, também relacionado à lenta adoção da economia circular no mundo, é a maior velocidade da produção na Indústria 4.0, disponibilizando mais produtos ao mercado. “Isso é realmente um problema. O consumo vai aumentar e a indústria vai acompanhar esse consumo porque quer vender. É um ciclo vicioso em que algumas iniciativas vão ter que começar a achar saídas para que esse consumo não vire um grande lixão”, afirma Guto Ferreira. A professora Tereza também mostra preocupação quanto à larga produção que prevê a Indústria 4.0. Apesar de o erro humano ser minimizado com a mecanização dos serviços, o consumo desenfreado ainda será o grande problema. “Na verdade, as empresas não estão preocupadas com isso, e sim com o lucro. A indústria vai ser desenfreada se o consumo também for”.

FONTE: ESTADÃO – Sustentabilidade

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